Nas Trilhas do Dragão: de Moto pela China, Tibet e subindo até o acampamento base do Monte Everest

A Expedição pelas Trilhas do Dragão foi para mim como uma declaração de vitória, de acreditar nos sonhos, ter fé em Deus, foco, persistência e constância.

Pilotar uma moto pela China, Tibet e subir até ao Acampamento Base do Monte Everest havia se tornado uma obsessão para mim a partir de 2018. Por duas vezes dei como certa a minha partida para aquelas bandas do planeta mas foi somente em 2023 que a expedição se concretizou.

Em outubro de 2022 recebi o convite para me tornar Embaixador do Grupo Haus BMW Motorrad e essa parceria viabilizou a realização da Expedição. Sorte? Não. Sorte é para quem joga baralho. Na realidade uma grande benção na minha vida pois sem fé não vamos de moto nem na padaria da esquina. Outros patrocinadores se interessaram em participar da Expedição e com esses aportes financeiros foi possível montar a melhor estratégia para executar a aventura.

Com tudo certo eu partiria no dia 27 de agosto de 2023 de Fortaleza para Paris e, de lá, para Pequim Capital da China, porém no Aeroporto e com as bagagens já despachadas o voo foi cancelado.

Esse cancelamento reacendeu o sentimento de frustração das quase duas largadas anteriores, mas esperar por apenas 24 horas comparado a uma esperada de mais de cinco anos, um dia seria realmente muito pouco.

No dia seguinte, decolei com as esperanças renovadas e muito feliz, dessa vez com a certeza que chegar até o Everest seria apenas uma questão de dias.

Em Paris esperei oito horas para voar até Pequim e o voo durou 10:30min. Assim que desembarquei deu para sentir como o governo Chinês trata os estrangeiros que teêm como destino o Tibet e a quem eles chamam de Região Autônoma do Tibet.

No dia primeiro de setembro saí do hotel na China para encontrar com os outros pilotos que vieram dos USA e Noruega, e que também realizariam a Expedição rumo ao Everest. Embarcamos para Lhasa a Capital do Tibet que fica a 3600 metros de altitude e assim que cheguei já comecei a sentir os efeitos da altitude. Foi como começar a respirar por um canudo. Do aeroporto fui direto para o equivalente ao Detran de lá para tratar do processo de obtenção da CNH chinesa e que também foi um processo demorado devido a burocracia local.

No segundo dia Em Lhasa visitamos mosteiros budistas e o belíssimo Palácio Potala para conhecer a cultura e os monumentos locais e que fazia parte do roteiro. No outro dia recebi a BMW GS 750 que me levaria até ao Everest. Esse dia fui muito especial para mim, onde comecei a sentir a conexão piloto e motocicleta e senti a chama da aventura correr por entre as minhas veias. O Everest estava cada vez mais perto e aquele tão aguardado sonho de anos estava prestes a se realizar.

No primeiro dia em rota de Lhasa com o destino a Shigatse percorri 360 km . Com paisagem exuberante o Tibet se revelou um país de rara beleza. Passei pelo lago Yamdrok que fica a 3800 m de altitude com águas de cor azul turquesa cercado por picos cobertos de neve.

Esse lago é considerado sagrado pelo Budistas Tibetanos. Eles acreditam que as suas águas possuem poderes espirituais de cura. Parei e tirei fotos também com os famosos cachorros da raça Martim Tibetano e fiquei impressionado pelo tamanhos deles. Antes de chegar em Shigatse um outro lugar me chamou a atenção pela beleza: o Glacier Karola á 5.560m de altitude. Nesse ponto eu definitivamente não estava me sentindo bem devido aos fortes efeitos da altitude e isso me deixou preocupado.

Sentindo fortes dores de cabeça, dificuldade em respirar e ainda associado ao fato de não estar me dando bem com a comida do Tibet me senti muito fraco. O meu corpo se ressentia mas a minha cabeça não, onde eu consegui focar na pilotagem. A noite no Hotel utilizei uma garrafa de oxigênio para aliviar os efeitos da altitude.

Existem também medicamentos que são utilizados para prevenir os efeitos das alturas e que me ofereceram mas eu optei por não tomar, já que haviam muitas restrições para quem estaria utilizando equipamentos mecânicos e eu, pilotando uma motocicleta, decidi por não arriscar e pagar para ver.

Seguindo rumo ao Acampamento Base do Everest a próxima etapa da Expedição me levou até Tingri e me proporcionou a mais desafiadora e prazerosa pilotagem de até então toda a minha vida.

Percorrer o Gyala Pass a 5.200m de altitude foi uma experiência marcante e inesquecível. O Gyala é um circuito de curvas fechadas que se alterna entre subidas e descidas acentuadas. Não existe acostamentos e a sensação é de estar em um vídeo game só que na vida real.

Quando terminei me senti eufórico com o coração quase que, literalmente, saindo pela boca. Antes de chegar á Tingri eu pude avistar o Everest pela primeira vez.

Lágrimas de felicidade escorreram por dentro do capacete. Ela estava lá, a maior montanha do mundo ao alcance dos meus olhos e na minha imaginação eu quase que podia tocá-la com a ponta dos meus dedos. Imponente, desafiadora, muito grande e belíssima.

Todas essas emoções desse dia me fizeram esquecer um pouco as mazelas que insistiam em me afligir desde que cheguei ao Tibet. Depois que tomei um banho tratei de me acalmar e comecei a desenvolver uma estratégia final para poder concluir a expedição e chegar até ao Acampamento Base a salvo, já que estava a apenas 100km de distância.

Desci para jantar e totalmente sem fome me forcei a comer um pouco de arroz com ovos, nada mais da culinária tibetana me apetecia. Depois do jantar subi até o quarto bem devagar e me deitei. Rezei e pedi a Deus forças e isso me trouxe uma paz momentânea. O Everest estava próximo. Não dormi bem, dei alguns cochilos e mantive a calma.

O tempo no entorno do Everest muda rapidamente. Durante a rota para Tingri estava ótimo, céu sem nuvens e sol, mas a tarde e começo da noite virou uma espessa névoa deixando o clima completamente fechado. Isso não era um bom indicativo para o dia seguinte. Segundo informações locais, nos últimos três dias a visão do Everest havia ficadototalmente encoberta frustrando a muitos aventureiros em suas missões.

Acordei um pouco melhor, mas ainda afetado pelos efeitos da altitude. Por outro lado, o dia amanheceu com o sol brilhando forte. Fui para fora do Hotel para tentar avistar a montanha que eu já perseguia há cinco anos e lá ela estava. Despontando do chão como se estivesse quas encostando no céu com os seus 8.490m. Toda branquinha contrastando com o azul do infinito.

Chegamos até a entrada do Acampamento Base pilotando as nossas motos e, de lá, tivemos que embarcar em um micro ônibus que nos levaria até mais próximo do Everest.

Na entrada um policial examinou minuciosamente a minha documentação e avisou de forma enfática que não poderíamos tirar fotos com as bandeiras de nossas países pois corríamos o risco de sermos presos. Essa ameaça foi como uma bacia de água fria nas minhas expectativas pois carrego sempre em minhas viagens e com orgulho a bandeira do Brasil.

O guia tibetano percebeu que isso tinha me irritado e concluiu que eu não iria respeitar o aviso. Ele implorou para que eu não fizesse pois temia represálias para ele e a família. Eu o atendi para poupá-lo de problemas.

Depois das fotos me afastei do grupo e sentei sozinho num ponto que ficava em frente ao Everest para uma reflexão. Um monólogo silencioso que me fez voltar no tempo até 2018 quando oficialmente comecei a trabalhar para realizar essa expedição. O Everest ali bem na minha frente me olhando. Percebi o tanto que tudo tinha valido a pena.

As lágrimas das frustrações, os reveses, nunca ter desistido, ter acreditado no meu sonho e ter mantido o foco, a persistência e a constância até aquele dia. Agradeci a minha esposa, a Glécya, aos meus filhos Tom e Davi e aos meus patrocinadores pelo apoio indispensável para a conclusão dessa Expedição.

A partir de 1993 realizei uma série de viagens de moto pelo mundo. A primeira foi de San Francisco na Califórnia USA até Fortaleza no Ceará, minha terra natal. Nada me acontecia de sério, nem pneu furava e a única vez que isso aconteceu foi em frente a uma borracharia. Durante muito tempo vivi sob a falsa impressão de que eu era um piloto perfeito do tipo o Top Gun Tom Cruise. Que eu poderia ir a qualquer lugar do mundo e enfrentar qualquer tipo de adversidade pois daria conta. Eu achava que tudo isso acontecia dessa maneira devido a mim.  Tudo isso mudou no dia em que eu entendi que o sucesso não se devia a minha pessoa e sim que eram bênçãos de Deus.

Ali eu me emocionei. Sentado e olhando para o Everest, agradeci a Jesus Cristo o meu Salvador.

A Expedição nas Trilhas do Dragão, viajando pela China, Tibet e Everest, foi muito mais do que uma aventura ou um desafio de superação humana.

Eu quis levar a todos a mensagem de que viver vale muito a pena e que se motivem a realizar os seus maiores sonhos.

Agora eu vou contar toda essa história real em detalhes no meu próximo livro que será lançado no final de 2024. Vamos viajar comigo?

Detalhes Técnicos desta aventura que você vai gostar de saber:

Mais Fotos de momentos especiais:

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O passe de ouro rumo ao Everest

Permissão temporária expedida em Lhasa e que me permitiu conduzir a motocicleta na China e no Tibet.

Nas Trilhas do Dragão

é o livro que contará toda a história em detalhes desta Expedição e que será lançado no inicio de 2025.